IA: regulador da França faz busca e apreensão na Nvidia
Autoridades antitruste da França acreditam que domínio da Nvidia no setor de chips para IA ameaça a competição
A Autoridade para a Competição (Autorité De La Concurrence), o órgão regulador antitruste da França, anunciou na última quarta-feira (27) ter realizado uma operação de busca e apreensão no escritório de "uma companhia de placas gráficas", por preocupações quanto ao setor de IA (Inteligência Artificial). A empresa não foi identificada oficialmente, mas segundo fontes, trata-se da Nvidial
A ação, que teve autorização judicial, foi executada por suspeitas de que a empresa "implementou práticas anticompetitivas" para sufocar empresas rivais, o que sugere uma reação das autoridades (mais uma, na real) à ascensão das IAs generativas, no que a gigante de Santa Clara e suas GPUs não têm concorrência, graças à tecnologia proprietária CUDA.
Os reguladores franceses enfatizaram, no anúncio oficial, de que a busca "não pressupõe uma violação das leis", algo que só poderá ser verificado no curso de uma investigação formal, que está em andamento, tendo como alvo o mercado de computação na nuvem, especificamente games e IA.
Com o interesse na tecnologia crescendo exponencialmente nos últimos anos, com usuários comuns, pesquisadores, e grandes companhias investindo no desenvolvimento de modelos baseados em Inteligência Artificial em diversas frentes, de desenvolvimento de código a arte, música, imagens, vídeo, texto, jogos, etc., a procura por GPUs aumentou bastante.
A Nvidia, por investir de modo antecipado em computação paralela em seus núcleos CUDA, um recurso que os gamers nunca botaram fé por ser dispensável em jogos, viu suas placas gráficas atraírem a atenção de cientistas e engenheiros em simulações, CAD, dinâmica de fluidos, design de proteínas e moléculas, tarefas que se tornaram muito mais rápidas de serem executadas com as placas GTX e RTX.
Porém, o crescente interesse em IAs generativas, como ChatGPT e Stable Diffusion, se revelou uma mina de ouro para a Nvidia. Tais processos não são mais do que Matemática e Álgebra Linear aplicadas, algo em que o CUDA é excelente, o que tornou a tecnologia basicamente o padrão do setor.
A AMD não tem nada que se compara à rival em suas placas gráficas, que dependem de força bruta para entregarem resultados similares, em um tempo maior; para quem tem pressa (e companhias têm muita), o custo menor simplesmente não compensa.
Hoje, a Nvidia é a principal fornecedora de chips para soluções de IA em todo o mundo, o que levantou especulações de que a empresa estaria interessada em mudar de foco, priorizando corporações ao invés do usuário gamer, porque o primeiro rende (muito) mais dinheiro.
O rumor sobre o fim da produção das GPUs Série 40, que muitos não levaram a sério, pode ter um fundo de verdade, visto que há sinais de desabastecimento, embora haja também a possibilidade de que a produção tenha sido reduzida para o iminente lançamento da Série 50, que ao que tudo indica, vai continuar muito cara para os mortais.
De acordo com um relatório da Autoridade para a Competição, emitindo em junho de 2023, os reguladores franceses acreditam que as companhias líderes no setor de placas gráficas (no caso, a Nvidia) exerçam a influência que têm, graças ao controle sobre o fornecimento dos chips necessários para a viabilização dos projetos e criação de modelos generativos, para sufocar rivais e excluir companhias menores, prejudicando a concorrência e a inovação do setor.
A AMD não é nenhuma empresa de garagem, claro. Avaliada em aproximadamente US$ 166 bilhões (dados de setembro de 2023), ela é uma gigante do setor de processadores IA-64/x86 e GPUs, ainda que seja uma companhia fabless (não imprime seus próprios designs), tal qual a Nvidia, cujo foco são processadores gráficos.
No entanto, o valor de mercado da Nvidia cresceu de forma exponencial nos últimos três anos, saltando de US$ 200 bilhões em meados de 2020, para US$ 1,074 trilhão na data da publicação deste artigo. Não é preciso ser gênio para perceber que essa valorização absurda se deu graças às IAs generativas, no que seus produtos passaram a ser priorizados por grandes e médias corporações.
A onda das criptomoedas, que vem arrefecendo nos últimos tempos, nunca conseguiu impulsionar o valor da Nvidia como as IAs vêm fazendo, e é perfeitamente compreensível se a companhia passar a concentrar seus esforços em clientes de grande porte, com produtos como a H100 Tensor Core (preço: US$ 30 mil), enquanto deixa a Glorious PC Gamer Master Race em segundo plano.
A investigação das autoridades francesas buscaria definir se a Nvidia está em vias de se tornar um monopólio no setor de chips para IA, o que muitos acreditam ser o cenário provável, similar ao que aconteceu com o Google e os motores de busca, ou sua plataforma de anúncios: por ter um produto original ótimo, ele "naturalmente" aniquila os rivais, mas isso não serve como desculpa em um processo antitruste.
Procuradas, a Nvidia e a Autoridade para a Competição da França não comentaram o assunto.